quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A tecnologia matando nossos sentimentos.

Ainda me lembro do "radinho" de pilha da minha finada avó.

Sempre na cozinha!   Era ligado cedo  para pegar o BOM DIA! do locutor, e a seleção de musicas românticas que começava logo cedo.

Ali, quietinho na prateleira, sem ser notado, ele contava a novela e até fazia ela chorar. Que bobo não?
Esse rádio durou décadas, e acompanhou a boa velhinha por anos, nunca quebrou, e por estar sempre por perto, sempre ligado e sempre cantando...nunca fez falta! e nunca foi substituído.

Esses rádios foram feitos  sem design, brutos, não tinham a qualidade e cores e brilhos que temos hoje, mas funcionava, e cumpria seu papel.

Diferente dos de hoje,  que têm data de validade marcada, que são lançados com prazo para serem descartados, e é aí que comparo a nossa fase de vida.

Tudo hoje é descartável, tudo é passado para trás e trocado por novos modelos mais caros, mais bonitos talvez, mais potentes! porém: sem intimidade! sem longa vida! sem valor.

Inclusive nossos sentimentos!  procuramos tanto nos relacionar, e combinar e estar em sintonia, que nos esquecemos da duração da insistência!  do valor!

Como era difícil  sintonizar uma frequência!  mas mesmo assim, era só tentar mais um pouquinho que dava certo. Esses somos nós hoje! desistindo da sintonia, desistindo do tentar para procurar um modelo novo na próxima casa.
Desistindo do cotidiano, e do real valor das coisas quando se tem dificuldade para consegui-las.

Penso que tudo ficou tão fácil, tão corriqueiro e banal, que comparamos nossas vidas entusiasmo e sentimentos á rádios -casas Bahia- vinte e quatro vezes bem baratinhas de prestação que nem pesa no bolso! no coração!

talvez eu seja antiquado.

Mas me dói pensar em não ter um rádiozinho de pilha, conquistado com o tempo, com suor...para estar sempre ali!

  Me acompanhando pelo resto da vida.

domingo, 5 de outubro de 2014

Parece.

Me chama!

venha até mim, me despedace sem piedade.

Me carregue pra bem longe, em cacos, copos, quilos.   Me faça me sentir peso, carga, volume.

Para que um dia: vazio, me recorde de que já tive valor tabelado em massa.
Para quando totalmente vazio me sentir ( como agora)  minha memória não seja algo que nunca tive.

Se entregue, inteira, em corpo, em beijo e sexo amassado.

Para que quando eu me sentir sozinho, me recorde em arrepio da responsabilidade que senti.
Para que quando eu me sentir sozinho, eu me faça companhia me lembrando do abraço.

Me recorde e me lembre em outros caras.

Para que quando eu te veja, não te sinta tão vazia. Tão sozinha.
Para fazer completo o ato falho desse nosso teatro sem público, sem luz, e de cortinas fechadas.

Mas me esqueça e saia da minha cabeça. Agora!  de uma vez!

Para eu poder dar os passos que sempre quis e nunca dei.
Para eu poder amar e sofrer o que já sofri.

Para que tudo isso PARE agora nesse instante.

Para que eu consiga de uma vez errante...

Me lembrar do amor; que nunca tive.